Brasília, quarta-feira, 8 de outubro de 2025 - 15:27
Blindagem, impunidade e anistia: o retrato da direita no Brasil
Por: Marcos Verlaine*
Ao priorizar autoproteção e blindagem, parlamentares revelam desprezo pelas demandas sociais e sofreram derrotas políticas.

Interesses próprios acima do País
Em meados de setembro, a maioria (354) dos deputados na Câmara escancarou as verdadeiras prioridades da direita e da extrema-direita no Congresso. Ao colocarem em pauta a PEC da Impunidade e o PL da Anistia, esses grupos mostraram estar mais preocupados com autoproteção e blindagem do que com as demandas da sociedade.
Na Câmara, onde ampla maioria, uniram-se para aprovar medidas que atendessem aos próprios interesses, ignorando propostas de relevância econômica e social.
A “PEC da Impunidade”, já rejeitada e arquivada no Senado, ampliaria a proteção de parlamentares e dificultaria o avanço de processos judiciais — alívio para parlamentares do Centrão, muitos sob investigação por desvios no “orçamento secreto” e nas “emendas PIX”.
Essas movimentações deixaram evidente estratégia de autoproteção, revelando a distância entre essa maioria parlamentar e as necessidades da população.
Anistia dos golpistas
No campo da extrema-direita, o objetivo é outro, mas o espírito é o mesmo: anistiar aliados e salvar Bolsonaro.
O PL da Anistia visa livrar os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, tentativa de golpe de Estado, que buscou destruir a democracia. A medida, na prática, protegeria o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), já condenado como líder da trama golpista.
Ao tentar reescrever a história e apagar crimes contra o Estado de Direito, o bolsonarismo reforça a imagem de defesa de privilégios e enfraquece a confiança no Legislativo.
Tiro no pé
Na ânsia de se proteger — o Centrão das investigações e o bolsonarismo da prisão de Bolsonaro —, ambos os blocos se desnudaram politicamente. Ficou claro que atuam para si próprios, não para o povo brasileiro.
Enquanto priorizam a autopreservação, empurram para o fim da fila projetos de real interesse social, como:
· Isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil;
·Regulamentação das apostas esportivas (bets);
· PL das Fake News, parado na Câmara;
· Alterações na Lei Maria da Penha; e
· CNH gratuita para pessoas de baixa renda.
A blindagem parlamentar foi barrada: a CCJ do Senado rejeitou a PEC por unanimidade. Já a anistia “ampla, geral e irrestrita” perdeu força. O que se discute agora é a dosimetria das penas aplicadas pelo STF — espécie de anistia disfarçada, também sem apoio político suficiente.
A pressão popular nas ruas e nas redes foi decisiva para enterrar essas medidas.
Centrão: o “centro” que é direita
O chamado Centrão reúne partidos de direita que se vendem como moderados. Surgido na Constituinte de 1987-1988, o grupo ressurgiu com força em 2014, sob a liderança do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ).
Hoje, abrange siglas como União Brasil, PP, Republicanos, Solidariedade e PRD, além de aliados eventuais como PSD, MDB e Avante, entre outros.
Sem coerência ideológica, o Centrão pratica a política de troca: apoio em troca de cargos e verbas. É o símbolo da velha política e do fisiologismo, que prioriza benefícios partidários e pessoais acima do interesse público.
Extrema-direita e o bolsonarismo
A extrema-direita brasileira se expressa pelo bolsonarismo, fenômeno autoritário e ultraconservador que emergiu na esteira da crise política entre 2014 e 2018. Transformou deputado do baixo clero em presidente e se apoia em 3 pilares:
1.Autoritarismo militar-positivista: culto à figura do “soldado patriota” e salvador da pátria;
2.Cristianismo reacionário: uso seletivo do Velho Testamento para justificar moralismo e punições; e
3.Neoliberalismo autoritário: modelo econômico que concentra poder e exclui a maioria, inspirado no Chile da ditadura Pinochet.
Esses pilares moldam projeto político que combina autoritarismo, fanatismo e desigualdade — incompatível com a democracia.
(*) Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap
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