Brasília, quarta-feira, 16 de julho de 2025 - 20:15
Trabalhador ou “colaborador”: o que você é na empresa em que trabalha
Frequente nos discursos patronais e de RH, o termo nada tem de inocente. Supõe harmonia social, que não existe, e ainda esconde a luta pelo combate à exploração da força de trabalho

“Colaborador” não é simples expressão. É palavra que se refere à pessoa que participa de atividade em relação de cooperação coletiva. Completamente diferente da relação laboral, segundo explica a presidente do SAEP, Maria de Jesus da Silva.
“Na relação laboral, a força do empregado é contratada por determinado valor econômico, que é o salário. E a remuneração é devida em troca da produção de produtos ou realização de serviços especificados no contrato”, detalha Maria.
São deslocamentos e horas de vida dedicadas à atividade laboral, em modelo de exclusividade ou não. Esforço em busca do necessário à subsistência e da família. Mas que nem sempre contempla vida plena e com qualidade.
“É um empenho que, no fim das contas, irá gerar renda, lucro ou outro benefício ao empregador, mas não para o trabalhador”, conclui a presidente do SAEP, ao lembrar que “muitas vezes, é preciso ter mais de 1 trabalho para conseguir sobreviver”.
Jornadas duplas ou triplas são cada vez mais frequentes na luta por renda que permita viver com dignidade e também atender às demandas da família.
Diante dessa realidade, Maria alerta sobre o risco do uso desenfreado do termo "colaborador". Segundo a sindicalista, a prática pode, aos poucos, dar espaço para conflitos de conceitos, que enfraquecem a classe trabalhadora.
Manipulação ideológica
O raciocínio tem respaldo nos estudos do professor de Sociologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Giovanni Alves. De acordo com o pesquisador e coordenador da RET (Rede de Estudos do Trabalho), a substituição de “trabalhador” por “colaborador” é um jogo de manipulação ideológica.
A verdadeira intenção por trás do termo “colaborador” é, portanto, a pretensão de “quebrar a dimensão do coletivo, da classe social, da classe trabalhadora, da resistência, da luta”, revelou Giovanni Alves, em 2016, durante entrevista ao Nuevo (Núcleo de Estudos da Violência Organizacional) da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
Colaborar com o algoz
De acordo com o professor, o uso da palavra “colaborador” para tratar de relações de trabalho e emprego representa “operação linguística”, que traduz a manifestação disfarçada do capitalismo, na relação de trabalho assalariado, como mecanismo perverso.
Em artigos sobre trabalho, subjetividade e capitalismo manipulatório, Giovanni alertou sobre os riscos.
“Colaborador não pode fazer greve. Colaborador não pode estar contestando àquela lógica da exploração. Você pode até estar apagando da cabeça das pessoas que elas são felizes, porque afinal de contas estão colaborando com a própria miséria. O perverso é colaborar com o seu algoz. E é perigoso”, ressaltou o professor na entrevista.
Viver no modo “automático”
O professor pesquisou o tema inspirado, também, na trama psicológica de “Clube da Luta”, de David Fincher (1999). Com argumento sarcástico, o filme aborda os impulsos de vida apática, vivida dentro das regras do consumismo e do capitalismo.
Em cena, o Narrador — de nome não revelado —, protagonista interpretado por Edward Norton, e o personagem Tyler Durden, o ator Brad Pitt, fazem diversas reflexões sobre a falta de propósito nesse sistema. Durden conclui:
“Você não é o seu emprego. Não é o dinheiro que tem no banco. Não é o carro que dirige. Não é o que tem na carteira. Não é o seu uniforme.”
A crítica é atual e aplicável a debates como, por exemplo, a mobilização pelo fim da escala 6x1, em que o trabalhador trabalha 6 dias e descansa apenas 1.
A película está disponível em plataformas on-line. Você também pode assistir à íntegra da entrevista com o professor Giovanni Alves no Canal da UFPR.
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