Brasília, terça-feira, 23 de setembro de 2025 - 13:26
Direita e extrema-direita se desnudam e atiram no próprio pé
Por: Marcos Verlaine*
A semana que passou expôs as reais preocupações dos deputados federais de direita e extrema-direita. Ao priorizarem a PEC da Impunidade e o PL da Anistia, revelaram interesses de autoproteção e blindagem. E empurraram para as “calendas gregas” proposições de grande relevância econômica e social para a população brasileira.

Esse perfil majoritário dos representantes — de costas para o País — não se limita à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal: parlamentares de direita e de extrema-direita predominam também em câmaras municipais e assembleias legislativas. Exercem hegemonia em diversas instâncias do poder representativo.
Na Câmara, cientes dessa maioria, uniram-se para aprovar medidas que atendem a seus interesses imediatos, em detrimento das demandas da população. Assim, deram reiteradamente de ombros ao País ao aprovarem a chamada “PEC da Impunidade”, já em tramitação no Senado, e ao concederem urgência ao PL da Anistia.
Se aprovada, a “PEC da Impunidade” ampliará a proteção dos parlamentares e dificultará ainda mais o processamento judicial deles. Isso interessa especialmente aos integrantes do chamado “Centrão”, muitos deles investigados por desvios de recursos públicos no “orçamento secreto” e nas “emendas PIX”.
Esses movimentos no Congresso expõem estratégia de blindagem e distanciamento das demandas populares, revelando as prioridades reais desses “representantes”.
No caso dos extremistas de direita, notadamente os bolsonaristas, o objetivo da anistia é beneficiar os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 — tentativa de suprimir a democracia e o Estado de Direito — e, sobretudo, proteger o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado e condenado como líder da trama golpista.
Ao tentar livrar Bolsonaro e aliados, os bolsonaristas reforçam a imagem de defesa de privilégios. Essas estratégias corroem a imagem pública e fragilizam ainda mais o apoio popular ao Congresso Nacional.
Tiro no pé
Nessa sanha por autoproteção — no caso do Centrão, para blindar-se de investigações; no caso dos bolsonaristas, para salvar Bolsonaro de prisão — direita e extrema-direita se desnudaram e deram um tiro em cada pé.
Revelaram a quem servem, e mostraram que se elegeram prioritariamente para defender os próprios interesses e não os do povo brasileiro. Isso ficou cristalino.
Essa maioria parlamentar explicita quem realmente representa ao empurrar para o fim da fila proposições de interesse popular, como:
* PL que isenta do IR quem ganha até R$ 5 mil;
* PL que regulamenta apostas esportivas (bets), sem previsão de votação;
* PL das Fake News, parado na Câmara;
* Mudanças na Lei Maria da Penha;
* CNH gratuita para pessoas de baixa renda.
Moral da história e pressão popular
Centrão e bolsonarismo sofreram derrotas. De um lado, a blindagem, de tão acintosa, tende a cair no Senado: a CCJ deve rejeitar e arquivar a PEC.
E a “anistia ampla, geral e irrestrita” está fora de cogitação. Não deve passar na Câmara. O que se discute concretamente agora é apenas a dosimetria das penas aplicadas pelo STF aos golpistas do 8 de janeiro e aos líderes da trama contra a democracia.
Valeu a pressão popular, nas ruas e nas redes, contra ambas as medidas antipopulares. Entenda agora, sinteticamente, o que é o Centrão e o bolsonarismo.
“Centrão” é de direita
Os deputados de direita estão distribuídos em diversos partidos e organizados no chamado “Centrão”. Embora rotulado como de centro, trata-se de bloco fisiológico, sem orientação ideológica consistente.
O termo “Centrão” surgiu na Assembleia Constituinte de 1987-1988. Hoje designa grupo diferente, que ganhou força, em 2014, quando, sob a liderança de Eduardo Cunha (MDB-RJ), articulou sua eleição para a presidência da Câmara.
Atualmente, o “Centrão” reúne parlamentares do União (59), PP (50), Republicanos (45), Solidariedade (5) e PRD (5). Em certos momentos, somam-se PSD (45), MDB (42) e Avante (7).
A maior parte dessas legendas não possui atuação ideológica clara — embora frequentemente classificadas como de centro ou centro-direita — e negocia apoio a qualquer governo em troca de cargos e verbas. Por isso, é associada à “velha política” e ao fisiologismo, isto é, à busca de benefícios partidários e pessoais, em detrimento do interesse público.
Extrema-direita
A extrema-direita brasileira é identificada pelo bolsonarismo — fenômeno político de viés autoritário e ultraconservador —, surgido com a ascensão de Jair Bolsonaro, sobretudo na campanha presidencial de 2018. Os movimentos de Bolsonaro rumo à Presidência começaram em entre 2014 e 2016. Ganhou destaque no impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e virou movimento nas eleições de 2018.
O bolsonarismo transformou um deputado radical e do baixo clero em presidente e se assenta em 3 pilares: autoritarismo militar-positivista, cristianismo reacionário e neoliberalismo autoritário.
O primeiro pilar é o autoritarismo militar-positivista. Embora afastado do Exército há décadas, Bolsonaro cultiva a imagem de soldado patriota, incorruptível e disciplinado, apresentado como único capaz de “salvar” o País — espécie de reedição do mito sebastianista em versão de coturno.
O segundo é o cristianismo reacionário, influenciado pelo Velho Testamento. Diferentemente do Novo Testamento — mais próximo de leituras progressistas, como a Teologia da Libertação —, o uso do Velho Testamento reforça visão moralista e punitivista.
O terceiro pilar é o neoliberalismo autoritário, inspirado no modelo chileno dos anos 1970. Assim como o cristianismo pode fundamentar tanto posturas humanitárias quanto fanáticas, o neoliberalismo pode justificar políticas antagônicas, inclusive restritivas, concentradoras de poder e excludentes da maioria.
(*) Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap
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