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Publicado: 4-nov-2025 - às 12:52


País ainda paga menos às mulheres: diferença média é de 21,2%

4º Relatório de Transparência Salarial mostra avanço lento e reforça desafios na igualdade de gênero no trabalho, segundo MTE e Ministério das Mulheres

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Mobilização e reivindicação de direitos na Marcha pelo Dia Internacional das Mulheres, em Brasília.

O MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) e o Ministério das Mulheres divulgaram, segunda-feira (3), o 4º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, com dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais).

A análise de 19,4 milhões de vínculos em 54 mil empresas com 100 ou mais empregados confirma que mulheres recebem, em média, 21,2% menos que homens. Isto, segundo dados de ambas as pastas.

A diferença é de R$ 1.049,67 — R$ 3.908,76 contra R$ 4.958,43.

Avanços e desafios
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho destacou que a Lei de Igualdade Salarial — Lei 14.611/23 — começa a gerar resultados, mas ainda enfrenta resistências.

“Querem baratear o custo do trabalho. Há preconceito com o trabalho. Precisamos mobilização para evitar retrocessos”, afirmou.

Ele informou que o governo dialogará com o STF (Supremo Tribunal Federal) sobre temas como pejotização e igualdade salarial. A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, reforçou:

“É direito das mulheres a igualdade salarial. A lei existe e deve ser cumprida.”

Desigualdade de gênero e raça
Representante da ONU Mulheres, Ana Querino lembrou que a desigualdade global é de 20%, mas mulheres negras no Brasil ganham 46% menos que homens brancos.

A secretária Rosane da Silva citou o caso da Unilever, com 54% de mulheres em cargos de liderança, e defendeu mais mulheres na negociação coletiva.

Participação cresce, renda não acompanha
A participação feminina subiu de 40% (2023) para 41,1% (2025) — 8 milhões de mulheres empregadas.

Ainda assim, a massa salarial feminina é 35% do total. Se acompanhasse sua participação, a economia ganharia R$ 92,7 bilhões extras.

Razões e tendências apontadas pelas empresas
Principais justificativas empresariais para diferenças salariais:

• Tempo de experiência (78,7%)

• Metas de produção (64,9%)

• Planos de carreira (56,4%)

Houve aumento de empresas com pelo menos 10% de mulheres negras e com diferença salarial até 5%.

Raça e porte da empresa
• 39% das mulheres estão em empresas com mais de 1.000 empregados.

• Diferença salarial de admissão: 33,5% (mulheres negras vs. homens não negros).

• Diferença na remuneração média: 53,3%.

• Estados com maior desigualdade: PR e RJ (28,5%).

• Menor: Piauí (7,2%).

Fiscalização e políticas corporativas
Em 2025, o MTE realizou 787 fiscalizações, com 154 autos de infração.

Entre as ações afirmativas empresariais:

• 38,9%: promoção de mulheres

• 23,1%: contratação de mulheres negras

• 7,3%: contratação de mulheres vítimas de violência

Medidas de apoio à parentalidade:

• Licenças estendidas (20,9%)

• Auxílio-creche (21,9%)

• Jornada flexível (44%)